29 dezembro, 2013

HERÓIS EM AÇÃO: ROBIN: FORTALEZA DA SOLIDÃO



         Para tornar as soturnas histórias de Batman mais apelativas ao público infantil, em 1940 foi criado Robin, pioneiro na tendência dos parceiros juvenis. Mais inspirado em Robin dos Bosques do que no pássaro que lhe dá nome, ao longo dos anos houve vários Meninos (e até uma Menina) Prodígio.

Robin I

Primeira aparição: Detective Comics nº38 (abril de 1940)
Criadores: Bob Kane e Bill Finger (história) e Jerry Robinson (arte)
Identidade civil: Richard "Dick" Grayson
Biografia e história de publicação:  Concebido para atrair o público infantil através do colorido que trazia às sombrias histórias do Homem-Morcego, Robin foi, desde a sua estreia, um estrondoso sucesso. O que se traduziu desde logo na duplicação do número de exemplares vendidos dos títulos estrelados por Batman. Ao mesmo tempo, lançava a moda dos sidekicks juvenis que adjuvavam heróis seniores (Capitão América e Bucky, Flash e Kid Flash, Aquaman e Aqualad, apenas para citar alguns exemplos).
        Embora o seu nome derive de uma ave ("robin" significa "tordo" em inglês), a maior inspiração para a sua criação foi na verdade Robin dos Bosques, personagem idolatrada por Jerry Robinson desde os seus tempos de infância. A prová-lo, o estilo medieval do uniforme primitivo do Menino Prodígio, decalcado de The Adventures of Robin Hood.

A estreia do Menino Prodígio em Batman nº38 (1940).
 
        Dick Grayson, o mais novo membro de uma família de acrobatas conhecidos por Os Graysons Voadores, ficou órfão depois de os seus pais serem assassinados por um mafioso chamado Boss Zucco, que vinha extorquindo dinheiro ao circo onde atuavam. Com o propósito de intimidar o proprietário do circo, o patife sabotou os trapézios dos Graysons Voadores causando-lhes uma queda para a morte.
        Batman investigou o crime e o seu alter ego Bruce Wayne assumiu a custódia legal do pequeno Dick, à época com apenas oito anos. Depois de ambos terem recolhido provas suficientes para incriminar Zucco, impressionado com a sua inteligência e determinação, o Homem-Morcego treinou o garoto para ser seu parceiro no combate ao crime. Finda a sua exigente preparação, Dick assumiu a identidade de Robin, trajando o célebre uniforme verde, vermelho e amarelo.
        Desde a sua primeira aparição, em 1940 (apenas um ano após a estreia de Batman), Robin ficou conhecido como o Menino Prodígio. Em meados da década de 1950, surgiu porém uma polémica em torno do facto de um homem adulto coabitar sozinho (o mordomo Alfred ainda não era residente na Mansão Wayne) com um pequeno órfão traumatizado. Os quadradinhos- e em particular as histírias do Duo Dinâmico -  foram por isso acusados de promoverem comportamentos sexuais desviantes como a pedofilia, mas também a delinquência juvenil, a homossexualidade e até o comunismo(!). Foi de resto o comportamento "indecente" do Duo Dinâmico que esteve, em grande medida, na génese do The Comics Code (espécie de exame prévio às histórias aos quadradinhos, que muitos classificaram de censura). A reputação de Robin foi severamente beliscada em resultado dessa controvérsia, com as repercussões a chegarem até aos dias de hoje, designadamente sob a forma de paródias maliciosas à suposta relação homossexual que o ligava ao seu mentor.

Nem sempre a relação de Batman e Robin foi bem vista.
 
        Com o tempo, porém, Robin foi sendo retratado como um adolescente. Entre 1970 e os primeiros anos da década de 1980, os leitores puderam assistir ao processo de crescimento do Menino Prodígio rumo à idade adulta. Depois de concluir o liceu, Dick ingressou na Universidade Hudson, afastando-se progressivamente da sombra do seu mentor.
       Entretanto renomeado de Jovem Prodígio, Robin foi redescoberto por uma nova geração de fãs ao longo da década de 80 do século passado, em grande medida devido ao enorme êxito da série The New Teen Titans (grupo de super-heróis adolescentes conhecido entre nós como os Novos Titãs).
       Atingida a maioridade, Dick, já desligado de Batman e liderando agora os Novos Titãs, abandonou a identidade de Robin e assumiu a de Asa Noturna (Nightwing no original), assinalando dessa forma a sua emancipação em relação ao Cavaleiro das Trevas. Nunca deixando contudo de, sempre que requisitado,  adjuvar o Homem-Morcego no combate ao crime.
       Recentemente chegou mesmo a assumir temporiamente o manto do morcego quando Batman foi dado como morto, no final da saga Crise Infinita. Com Damian Wayne, filho de Bruce Wayne e a mais recente encarnação do Menino Prodígio, Dick reeditou o Duo Dinâmico, agora no papel de tutor.

Robin II

Primeira aparição: Batman nº366 (dezembro de 1983)
Criadores: Gerry Conway (história) e Don Newton (arte)
Identidade civil: Jason Peter Todd
Biografia e história de publicação:  Ultrapassada a relutância da DC em transformar Dick Grayson no Asa Norturna, iniciou-se a busca por um novo Robin. Para minimizar o impacto da mudança, a escolha recaiu sobre Jason Todd que, nas suas primeiras aparições, fazia lembrar uma versão infantil de Dick. Tal como este, Jason também pertencia a uma família de acrobatas circenses assassinados por um criminoso (desta feita o Crocodilo) e posteriormente adotado por Bruce Wayne.
        Originalmente, Jason Todd era ruivo, muito alegre e usava o seu fato de circo para combater o crime. Quando Dick Grayson o presenteou com um uniforme de Robin idêntico ao que ele próprio usara no passado, Jason resolveu pintar o cabelo de preto para dessa forma ficar mais parecido com o primeiro Menino Prodígio.
        Na cronologia pós-Crise nas Infinitas Terras, Jason Todd foi, porém, profundamente reformulado. Era agora um órfão delinquente que encontrou Batman pela primeira vez quando tentava roubar os pneus do Batmóvel. Apesar do perfil problemático do rapaz, o Cruzado de Capa viu nele potencialidades e ofereceu-lhe a vaga de Robin.

Capa de Batman nº408 (1987), onde foi a apresentada a nova versão de Jason Todd.

        Não obstante a popularidade de Jason Todd no período pré-Crise nas Infinitas Terras, esta nova versão da personagem não foi bem acolhida pelos fãs. Como consequência, em 1988, a DC realizou uma controversa votação telefónica para determinar se os leitores preferiam a sobrevivência ou a morte da personagem no arco de histórias Batman: A Death in the Family. Por uma curta margem de votos (5343 contra 5271), os fãs ditaram a sentença de morte da segunda encarnação do Menino Prodígio às mãos do Joker. As histórias subsequentes do Homem-Morcego exploravam a sua incapacidade em evitar a morte do seu protegido, mostrando um herói mais amargo do que nunca e consumido pelos remorsos.
Perante a reação adversa dos leitores, à DC não restou outro remédio senão matar o segundo Menino Prodígio.

        No entanto, anos mais tarde, Jason Todd regressaria ao mundo dos vivos, agora sob a identidade de Capuz Vermelho (o nome com que o Joker, seu verdugo, começara a sua carreira criminosa) e com uma moral distorcida, que o colocou em rota de colisão com Batman e restantes membros da Batfamília.

Robin III

Primeira aparição: Batman nº442 (dezembro de 1989)
Criadores: Marv Wolfman (história) e Pat Broderick (arte)
Identidade civil: Timothy "Tim" Jackson Drake 
Biografia e história de publicação: Na sequência do fiasco de Jason Todd, a DC questionava-se se por detrás da decisão dos leitores de matá-lo estaria o facto de preferirem ver Batman a operar como um vigilante solitário, se tinham antipatizado com a personagem ou se apenas tinham pretendido, com os seus votos, testar a coragem da editora em liquidar o Menino Prodígio. Com a ausência de Robin no filme Batman (1989), a DC via ainda menos motivos para reviver a personagem.
         Surpreendeu, portanto, a decisão de  Denny O´Neill, editor à época dos títulos do Homem-Morcego, de apresentar um terceiro Menino Prodígio. Timothy Drake apareceu pela primeira vez, numflashback, em Batman nº436 (1989). Tratava-se de um jovem que acompanhara as aventuras do Duo Dinâmico desde que testemunhara o assassinato dos Graysons Voadores, quando assistia a um espetáculo de circo. Este facto serviu para criar uma ligação entre Tim e Dick, a qual a DC esperava possibilitar uma melhor aceitação deste novo Robin por parte dos fãs.
         Graças aos seus talentos detetivescos, Drake conseguira descobrir as identidades secretas do Duo Dinâmico, proeza que muito impressionou Batman. Já as suas capacidades atléticas ficavam aquém das de Dick Grayson (embora superassem as de Jason Todd), lacuna compensada pela sua disciplina e determinação, bem como pelo uso de uma armadura de kevlar.
          Aos olhos dos leitores, Tim Drake era uma espécie de meio termo entre o excessivamente bem-comportado Dick Grayson e o imprudente Jason Todd. Foi também o primeiro Robin a dispor de um título próprio, no qual combatia o crime a solo. Paralelamente, foi um dos fundadores do grupo Justiça Jovem (Young Justice) e seria também responsável pela refundação dos Novos Titãs.

Tim Drake foi o primeiro Robin a dispor de um título individual.

         Após o desaparecimento de Batman e com o seu filho, Damian Wayne, a assumir o manto de Robin, Tim adotou a identidade de Robin Vermelho (Red Robin). Na cronologia reformulada da DC, no âmbito de Os Novos 52!, convencionou-se que Drake nunca sucedeu a Jason Todd nas funções de parceiro juvenil do Cavaleiro das Trevas, optando em vez disso por atuar de forma independente como Robin Vermelho.

Robin IV

Primeira aparição: Robin nº126 (julho de 2004)
Criadores: Chuck Dixon (história) e Tom Lyle (arte)
Identidade civil: Stephanie Brown
Biografia e história de publicação: Filha do Mestre das Pistas, um criminoso de segunda linha de Gotham City, Stephanie Brown atuou durante algum tempo sob a identidade de Spoiler, uma aventureira mascarada. Foi nessa qualidade que conheceu Tim Drake, tornando-se sua namorada. Quando Tim desistiu de ser Robin, ela ofereceu-se para assumir o seu lugar.
           Tentado provar o seu valor a Batman, a jovem roubou um dos planos inacabadosdo herói para controlar o crime organizado de Gotham City e executou-o, desencadeando inadvertidamente uma sangrenta guerra de quadrilhas nas ruas da cidade. Quando tentava emendar o seu erro, a nova Robin foi capturada pelo sádico Máscara Negra, que a torturou quase até à morte. Apesar de ter conseguido escapar do seu cativeiro, Stephanie morreria pouco tempo depois em resultado da gravidade dos seus ferimentos.

Stephanie Brown foi uma Robin fugaz.

           Suscitou grande controvérsia na comunidade de fãs tanto a tortura a que Stephanie foi sujeita como o facto de, não obstante ela ter sido Robin por um curtíssimo período, ter tido direito, ao contrário do malogrado Jason Todd, a um memorial na Batcaverna.
           Numa história publicada em 2008 foi contudo revelado que a sua morte não passara de um embuste e, no ano seguinte, Stephanie assumiu a identidade de Batgirl, com direito a série própria.

Robin V

          Depois de vários protegidos e filhos adotivos de Bruce Wayne terem assumido a identidade de Robin ao longo dos anos, temos pela primeira vez um Menino Prodígio que é filho biológico do multimilionário. Damian Wayne é  o resultado do fugaz romance de Bruce com Talia al Ghul, filha do terrorista internacional e arqui-inimigo de Batman, Ra's al Ghul.
          Ignorando a existência de Damian até há pouco tempo, Bruce acolheu o catraio depois de Talia lho ter entregue aos seus cuidados. Treinado pela Liga de Assassinos, Damian é arrogante, indisciplinado, violento e rege-se por um código moral muito próprio.
          Habituado a matar desde tenra idade, o jovem revelou-se um autêntico quebra-cabeças para o seu pai, que, pelo contrário, jurou solenemente nunca tirar uma vida humana.  O que Damian não sabia é que fora concebido com o intuito de servir de hospedeiro à alma imortal do seu avô materno, assim como para ser usado como um peão na guerra movida por Ra's al Ghul contra o Cavaleiro das Trevas.
Damian Wayne, um Robin problemático.

         Salvo por Batman do seu cruel destino, Damian afeiçoou-se ao pai. Com o desaparecimento desteo garoto, profundamente abalado pela aparente morte do progenitor, foi deixado pela mãe aos cuidados de Dick Grayson e do mordomo Alfred Pennyworth.
        Quando Dick assumiu o manto do morcego, Damian tornou-se o novo Robin em detrimento de Tim Drake. Com o regresso de Bruce Wayne, Dick retoma a sua identidade de Asa Noturna mas Damian continua a ser o Menino Prodígio. Pai e filho formam assim uma versão inédita do Duo Dinâmico. Damian acabaria contudo por morrer às mãos de Herético, um brutal vilão que era na verdade um clone adulto dele próprio.

Da esq. para dir.: Jason Todd, Dick Grayson, Tim Drake, Stephanie Brown e Damian Wayne.

Armas, poderes e habilidades: Tendo como denominador comum  exigente treino físico, intelecutal e psicológico a que foram sujeitos por Batman, todos os Robins são atletas de exceção, dominando várias artes marciais e técnicas de combate corpo a corpo. Todos possuem igualmente, embora em graus diferentes, elevadas capacidades dedutivas e na área da criminologia. 
        A exemplo do seu precetor, dispõem de uma vasta parafernália que inclui, além dos icónicos batarangues, cápsulas de gás, ganchos e cabos metálicos e ainda motos e outros veículos. Desde que Tim Drake se tornou o terceiro Robin que uma armadura feita à base de kevlar e de tecido à prova de fogo, para uma proteção corporal mais eficaz, substituiu o uniforme tradicional. Este modelo serviu aliás de base à conceção do traje usado por Robin no filme Batman Para Sempre (vide texto anterior).

A mais recente versão do Duo Dinâmico.
 

Noutros media:  A despeito do seu habitual papel de coadjuvante nas histórias do Homem-Morcego, Robin (em qualquer umas das suas encarnações) logrou sempre distinguir-se a título individual, tendo tido participações preponderantes em eventos cruciais no Universo DC. É também considerado o arquétipo dos parceiros juvenis que secundaram os heróis seniores durante a época áurea dos sidekicks. 
         Quando transposto ao cinema e à TV, porém, foi-lhe sempre reservado um papel subalterno relativamente a Batman. Data de 1943 a primeira aparição do Menino Prodígio fora dos quadradinhos. Na série televisiva Batman, Douglas Croft interpretou o herói juvenil. Seis anos depois, em 1949, foi a vez do ator Johnny Duncan dar vida a Robin noutra série televisiva estrelada pelo Duo Dinâmico, Batman and Robin.
         Todavia, o parceiro de Batman, agora encarnado por Burt Ward, seria definitavente catapultado para a ribalta graças à série televisiva Batman, campeã de audiências nos EUA no biénio 1966-68. Para a notoriedade da personagem contribiu igualmente a sua participação na longa-metragem (por cá intitulada Batman, O Invencível) baseada na referida série. Seguiu-se uma longa travessia do deserto mediático, interrompida apenas em 1995, quando Chris O' Donnel foi o ator escolhido para dar vida a Robin no filme Batman Para Sempre, ganhando maior destaque, dois anos depois, na sequela Batman & Robin.

Burt Ward (esq.) e Chris O'Donnell: duas gerações de Robins na TV e no cinema.
 
        No campo da animação, o Menino Prodígio estreou-se em 1968 na série juvenil The Batman/Superman Hour. Seguiram-se participações em variadíssimas produções do género baseadas no Universo DC, como The Adventures of Batman (1969), Super Friends (1975) ou, mais recentemente em Batman: The Brave and the Bold (2008-2011).  Também marcou presença nos filmes de animação Justice League: A New Frontier (2008) e Batman: Under The Red Hood (2010).

            



De: FORTALEZA DA SOLIDÃO <noreply@blogger.com>